sábado, 15 de maio de 2010

“O enigma do valor 456 milhões”

“Empreiteiras ganham R$ 456 mi de SP por construções antigas”
Dersa diz que valores foram renegociados devido a atrasos em pagamentos
Folha de São Paulo, 24 de Abril de 2010 ALENCAR IZIDORO
O governo de São Paulo firmou acordos judiciais durante a gestão José Serra (PSDB) para pagar até dezembro deste ano mais de R$ 456 milhões a cinco empreiteiras com a justificativa de quitar pendências de obras antigas, como a construção da rodovia Carvalho Pinto e a duplicação da Dom Pedro 1º.
Os contratos com as empresas foram firmados entre os anos 80 e 90. A nova conta começou a ser paga nos últimos meses pelos cofres do Estado, inflada por correção e juros.
O dinheiro equivale a mais de um terço do custo da obra de ampliação da marginal Tietê. É suficiente para pavimentar 650 km de estradas vicinais.
Entre as cinco construtoras que já começaram a receber os depósitos, quatro também estiveram ligadas à construção do trecho sul do Rodoanel, bandeira de Serra, pré-candidato à Presidência, neste ano eleitoral e que foi entregue após ser erguido em tempo recorde….
“São Paulo pagou R$ 456 mi a 45 doadores de Alckmin”
Credoras do governo paulista deram R$ 14 mi dos R$ 62 mi obtidos pela campanha
Além dos R$ 456,1 milhões já liquidados, existe ainda R$ 1,546 bi dos
contratos com empreiteiras para fazer o trecho Sul do Rodoanel
Folha de São Paulo, 02 de Dezembro de 2006
CATIA SEABRA
MATHEUS PICHONELLI
Juntas, 45 colaboradoras da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência são
destinatárias de R$ 456,1 milhões dos cofres do Palácio dos Bandeirantes apenas neste ano. Cruzamento entre a prestação de contas do PSDB e a lista de fornecedores do Estado de São Paulo revela que pelo menos 45 doadoras estão entre os credores do governo estadual, comandado por Alckmin até março deste ano.
Somados ao contrato para o trecho Sul do Rodoanel, o total previsto para essas empresas superaria R$ 2 bilhões.
Essas empresas,entre elas empreiteiras, bancos e fornecedoras de equipamentos de segurança- contribuíram com R$ 14.478.968, correspondendo a 23% dos R$ 62 milhões arrecadados pelo comitê financeiro da campanha.
Além desses R$ 456,1 milhões já liquidados (cujo pagamento já foi autorizado) pelo governo, há ainda R$ 1,546 bilhão em contratos para a construção do trecho Sul do Rodoanel. Encarregadas da obra, as construtoras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, OAS, Mendes Júnior e Engevix estão entre os principais doadores da campanha.
A Andrade Gutierrez, por exemplo, contribuiu com R$ 1,5 milhão para a campanha de Alckmin. Neste ano, a empreiteira receberá R$ 15 milhões do Estado, segundo o orçamento registrado no Sigeo (sistema de acompanhamento dos gastos do Estado). O contrato do Rodoanel prevê R$ 492,9 milhões para a empreiteira….

“FILHA DE DIRETOR DO DERSA ATUA PARA EMPRESA DO RODOANEL”
Priscila de Souza trabalha em escritório que defende empreiteiras contratadas pelo Estado
Priscila é filha de Paulo Vieira de Souza, diretor da Dersa investigado pela Polícia Federal no caso Camargo Corrêa
Folha de São Paulo- 17 de Dezembro de 2009
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO/ALENCAR IZIDORO
A filha de Paulo Vieira de Souza, diretor da Dersa, empresa do Estado responsável pela construção do Rodoanel, é advogada das empreiteiras contratadas pelo governo de São Paulo para construir a alça sul do anel viário em pelo menos um dos processos do TCU (Tribunal de Contas da União) que apontou indícios de superfaturamento no projeto.
Priscila Arana de Souza trabalha no escritório Edgard Leite Advogados Associados, que defende as mesmas construtoras no TCE (Tribunal de Contas do Estado) em casos que envolvem as obras do Rodoanel.
O escritório onde ela trabalha é especializado em atender grandes empreiteiras e ainda atua em processos na Prefeitura de São Paulo para a EIT (Empresa Industrial Técnica).
Neste ano, a EIT dividiu com a Egesa, por R$ 456 milhões, metade da obra da Nova Marginal, também gerenciada pelo engenheiro Paulo de Souza, diretor da Dersa.
Formada pela FMU (Faculdade Metropolitanas Unidas) em São Paulo em 2002, Priscila foi contratada em junho de 2006, quando seu pai já trabalhava na estatal.
Procurada pela Folha por três semanas, ela não respondeu ao pedido de entrevista.
Camargo Corrêa
Uma das empreiteiras do Rodoanel que é cliente do escritório é a Camargo Corrêa.
Segundo a Polícia Federal, há suspeitas de que a empresa tenha pago propina ao diretor da Dersa e pai dela por conta da obra do anel viário, no âmbito da Operação Castelo de Areia.
A Procuradoria da República, em São Paulo, requisitou a inclusão de Paulo de Souza na lista de autoridades investigadas por suspeita nas irregularidades em obras públicas.
Além das investigações do TCU, a obra do Rodoanel também é investigada pela
Procuradoria da República e pelo Ministério Público Estadual.
No mês passado, vigas de um viaduto em construção no trecho sul desabaram sobre a rodovia Régis Bittencourt, deixando três feridos.
O consórcio responsável por esse trecho da obra (formado por OAS, Mendes. Jr e
Carioca) também é um dos defendidos pelo escritório de advocacia onde trabalha Priscila.
Mais recentemente, em fevereiro deste ano, esse escritório contratou mais uma advogada próxima a autoridades do governo paulista -Nathália Annette Vaz de Lima, filha do líder da gestão Serra na Assembleia Legislativa, José Carlos Vaz de Lima (PSDB).
O deputado estadual Vaz de Lima é um dos políticos mais ligados a Aloysio Nunes. Ambos são de São José do Rio Preto (SP) e têm base política na cidade. Via
assessoria, o deputado disse que não há nenhum problema no fato de sua filha trabalhar no escritório.
Empréstimos
A família de Paulo de Souza tem ligações estreitas com o secretário de Estado da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira Filho, um dos pré-candidatos do PSDB ao governo de SP, caso José Serra não dispute o cargo.
Em 2007, a advogada e sua mãe, Ruth, fizeram um empréstimo de R$ 300 mil a Aloysio Nunes -Priscila respondeu pela maior parcela, R$ 250 mil.
Aloysio diz ter usado o dinheiro para pagar parte do apartamento que comprou em Higienópolis e que quitou todo o valor até este ano, em parcelas, mas tudo sem juros.
Assim como o diretor da Dersa, Aloysio também é citado nas investigações da PF que envolvem a Camargo Corrêa. O chefe da Casa Civil paulista é apontado como suposto beneficiário de um repasse de US$ 15.780, pago pela empreiteira em 1998. Ele diz que todas as doações que recebe são legais.

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