domingo, 27 de setembro de 2009

Laudo aponta danos ambientais no Rodoanel


Alagamento no entorno de obras de trecho do Rodoanel, que ligará Regis Bittencourt e Anchieta-Imigrantes
27/09/2009 - 13h27
da Folha Online
Problemas como deficiências no projeto de drenagem e de retenção de terra na construção do trecho sul do Rodoanel foram constatados em vistorias da Cetesb (companhia ambiental de São Paulo), informa reportagem publicada neste domingo pela Folha.Os problemas constam do último relatório do grupo que monitora a obra, baseado em blitz feita no dia 3 de agosto passado no lote 1, de Mauá a São Bernardo do Campo (ABC paulista), a cargo do consórcio Andrade Gutierrez/Galvão. A falta de retenção de terra está deixando a água escura e provocando assoreamento em parte da represa Billings --uma das principais fontes de abastecimento em São Paulo.
Um supervisor ambiental do empreendimento afirma que os impactos superam as previsões. Ele cita uma região com 15 córregos, fora da área de concessão do Rodoanel, que desapareceram por conta do assoreamento.A Dersa (empresa de transporte do Estado responsável pelo Rodoanel) avalia que os problemas ambientais não são significativos e que eles foram agravados pelas chuvas.
Dersa afirma que falhas no Rodoanel são pontuais
Empresa estatal responsável pela obra também culpa intensidade de chuva
Dersa afirma que monitora fauna, flora, água, ar e patrimônio de modo rigoroso e que cumpre licenciamento ambiental A Dersa (empresa de transporte do Estado responsável pelo Rodoanel) avalia que os problemas ambientais apontados em vistoria oficial não são significativos -e que eles foram agravados pelas chuvas."A alta intensidade da ocorrência de chuvas nos últimos meses afetou algumas medidas mitigadoras, principalmente os dispositivos de drenagem provisórios. A situação observada no relatório refere-se a problema localizado, de pequena abrangência e significância", informou a Dersa.Em relação ao afogamento de árvores, a empresa disse que "a vegetação afetada encontra-se em estágio pioneiro de regeneração" -e que ela havia sido mantida apesar de autorização para a sua retirada.Quanto ao assoreamento de trechos da represa, a Dersa também respondeu ser problema localizado. Sobre um caso citado pela vistoria, disse que "a ocorrência já foi resolvida".Questionada a respeito de uma foto aérea mostrada pela Folha e que também mostra a diferença acentuada na cor da água no entorno do Rodoanel, a empresa diz que ela "provavelmente foi obtida após incidência muito alta de chuva". Mas minimizou os possíveis danos.Disse que "os materiais mais grossos", "como areia", foram retidos, e que a "turbidez" se deve a algum material "muito fino como argila", sem prejuízo à qualidade da água da represa, "que é monitorada em tempo real por meio de três estações automáticas".A Dersa nega irregularidades no acúmulo de montes de terra ao longo da obra. Diz que a imagem flagrada em vistoria oficial se deve a um material depositado "provisoriamente para posterior utilização", sem risco de ser arrastado pela chuva -avaliação diferente da Cetesb. Afirma também que todos os depósitos de terra existentes foram devidamente licenciados.A empresa de transporte do Estado diz que implantou um programa de resgate da fauna na obra e que atendeu mais de 500 animais, dos quais 350 foram realocados em áreas similares e 150, "encontrados feridos ou adoentados", foram encaminhados para tratamento.A Dersa afirma, por fim, que os programas ambientais determinados quando do licenciamento da obra -incluindo monitoramento de fauna, flora, água, ar e proteção ao patrimônio histórico- "estão sendo rigorosamente cumpridos".O consórcio Andrade Gutierrez/Galvão, responsável pelas obras do lote 1 do Rodoanel e contratado pela Dersa, informou que, "por questão contratual", não irá se manifestar.Ana Cristina Pasini da Costa, diretora da Cetesb, avalia que a constatação de falhas ambientais -que ela não considera ser "de grande monta"- no empreendimento indica que a construção está fiscalizada."Uma obra dessas causa impactos. Mas acredito que esteja sob controle", afirma.(JAMES CIMINO E ALENCAR IZIDORO)
Após início da obra, Pesqueiro Oito Lagos fica apenas com três
Comerciante diz que terra do Rodoanel assoreou cinco tanques de peixe no local com a intensificação da chuva
Comissão de meio ambiente da Assembleia vai pedir auditoria à Secretaria do Meio Ambiente sobre os impactos da construção
Quem chega ao Pesqueiro Oito Lagos, na região de Parelheiros (extremo sul de São Paulo), tem a mesma sensação de quem desce na estação Praça da Árvore do metrô e se pergunta onde está a praça. Dos originais oito lagos, só restaram três. Outros três foram encobertos pela pista. Um está cheio de terra, onde o mato já cresce. Outro virou uma poça. E os três que sobraram ainda têm água, mas ela não é nada límpida.
Com as chuvas torrenciais ocorridas nos últimos meses, a terra proveniente do talude da pista do trecho sul do Rodoanel tingiu de cor de tijolo os tanques de pesca remanescentes.
Irineu Marcondes, 51, que arrendou o pesqueiro há poucas semanas, com expectativa de lucro, diz que já perdeu 600 kg de peixe. Ele mostra os dois pontos de escoamento de águas pluviais da rodovia, que desembocam dentro da propriedade.
No entanto, um dos tanques, que tinha dois metros de profundidade e hoje não chega aos 80 centímetros, ainda serve como criadouro de girinos.
Marcondes diz que em seu contrato consta a existência de três tanques. "Só consigo usar um. A enxurrada destruiu o filtro, e a terra tomou conta. O engenheiro da obra prometeu limpar os tanques com uma escavadeira, mas não sei se o proprietário já não foi indenizado pelas perdas. Falei para ele que eles deveriam fazer um canal de escoamento que desembocasse à frente dos lagos. Talvez eu tenha que pagar por fora."
Em nota enviada à reportagem da Folha, a Dersa informa que a área do pesqueiro está sendo negociado para integrar a Unidade de Conservação Varginha, a ser administrada pela prefeitura, e que estudos realizados pela USP "definirão o uso apropriado da área".
Auditoria
O deputado estadual Donisete Braga (PT), da comissão de meio ambiente da Assembleia, prepara um pedido de auditoria à Secretaria do Meio Ambiente sobre os impactos do Rodoanel.
A decisão saiu após uma vistoria na semana retrasada a São Bernardo do Campo (ABC paulista), onde obteve informações de áreas assoreadas na Billings.
"Não somos contra a construção do Rodoanel. Mas é preciso avaliar se os impactos não superam a previsão", diz.
Tranquilidade termina após início da obra
"As cobras foram as primeiras a desaparecer", diz Maria Tereza Nissimura, 47, proprietária do sítio Tadao, em Parelheiros (zona sul de SP), ao comentar as mudanças que aconteceram em sua vida após o início das obras do Rodoanel, em 2007, que consumiram quase metade de sua propriedade.
Acostumada desde 1992 ao barulho dos cães, dos sabiás, da arara, dos saguis e dos esquilos que vivem livres no sítio, hoje ela está a poucos metros da pista. Por causa do ruído das máquinas, diz não conseguir dormir.
Seu relato é todo documentado com fotos que mostram diversos momentos da obra, e os consequentes transtornos originados a sua rotina. Ela mostra também três boletins de ocorrência registrados no 25º DP de Parelheiros. Um deles descreve um assalto sofrido, segundo ela, por causa do Rodoanel.
"Quando eu ia sair para alimentar os saguis, dois ladrões encapuzados entraram em casa e me amarraram pedindo o dinheiro da indenização. Fugiram de moto, e a polícia não conseguiu chegar por causa das obras, que duram até a noite. A casa vibra, tem rachaduras. O celular só funciona se eu subir no Rodoanel. Imagine quando começar o tráfego? Quero me mudar daqui."

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