Por reportagem de Leandro Rodrigues Sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Tragédia revela o descaso do governo estadual com os moradores do Jardim da Conquista e do Jardim Nova Vitória, bairros da zona leste que tiveram partes devastadas para a construção do Rodoanel
Fotos de Eduardo Ogata
Os moradores do Jardim da Conquista e do Jardim Nova Vitória velaram na tarde desta sexta-feira (12) o corpo do menino Lucas, de 10 anos, que se afogou enquanto nadava num piscinão improvisado, abandonado pela empresa Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A) nos arredores do Rodoanel. A tragédia retrata o abandono que se encontram milhares de pessoas residentes da região, situada na zona leste da capital, em parte devastada pela obra inaugurada às pressas no início deste ano. “Aqui somos tratados pior do que cachorros! O próximo pode ser o meu filho”, diz indignada a dona de casa Patrícia Brito, mãe do jovem Leandro, que tem 12 anos e presenciou o momento em que Lucas era socorrido em vão pelos bombeiros.
O acidente ocorreu por volta das 14h de ontem (11), quando Lucas e outro amigo da mesma idade nadavam no local. Segundo o deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), o piscinão abandonado pela Dersa foi uma remediação improvisada para atender o aumento de vazão dos córregos da região, sofrido com o impacto do Rodoanel. Após a inauguração do trecho que corta os dois bairros, de forma irresponsável, a empresa controlada pelo governo estadual deixou para trás o aparelho de drenagem. Não há muros nem portões que isolam o espaço, apenas uma pequena grade o circunda. A carência de centros de convivência justifica a apropriação do piscinão por crianças e adolescentes que residem no entorno, desprovidos de qualquer espaço de lazer.
Testemunhas afirmam que, apesar da dificuldade do acesso, o atendimento chegou rápido ao local, porém, Lucas foi localizado após 20 minutos de busca. Com o garoto desacordado, os bombeiros iniciaram os procedimentos de primeiros-socorros à margem do piscinão, onde minutos depois a vítima sofreu uma hemorragia. Mais de 24 horas depois da tragédia, marcas de sangue e as roupas que o garoto usava simbolizavam no local o sofrimento da comunidade.
No Cemitério da Vila Alpina, onde Lucas foi enterrado às 17h, familiares, amigos e vizinhos estavam desolados. Muitas crianças acompanhavam o velório e choravam a perda prematura do amigo. O garoto era o filho mais velho de uma viúva que cria sozinha mais dois filhos, um de oito e outro de três anos. Diariamente, a mãe sai às 4h30 de casa, embarca em quatro ônibus até chegar ao bairro do Ipiranga duas horas depois, executa o serviço de faxineira em um edifício e às 20h retorna para casa. Ao final do mês, o resultado de seu esforço são R$ 600,00, aproximadamente. No período em que estava fora, seu primogênito a auxiliava com os trabalhos domésticos e fazia as vezes de “homenzinho da casa”, como afirma Ermelina Rocha, amiga da família.
Revoltados e com desejo de justiça, os moradores planejam realizar um protesto no Rodoanel, em frente ao local em que Lucas faleceu, para chamar a atenção do Estado para a situação de risco que as famílias vivem. “Ia dar nisso. Precisou que uma criança morresse, e nem assim sabemos se a Dersa e o governo vão olhar pra gente”, lamenta Fábio Silva, de 23 anos, morador do Jardim da Conquista.
Até o fechamento da matéria (21h13), a reportagem tentou fazer contato com a assessoria de imprensa da Dersa, a fim de obter esclarecimentos sobre o caso. Funcionários informaram que o setor já havia encerrado o expediente.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
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